Computação quântica: conceito e aplicação no setor financeiro
Por Rogério Marques
05 novembro 2019 - 11:25 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:47
No escopo dos projetos de transformação digital no setor financeiro, o uso de tecnologias disruptivas como a Inteligência Artificial (IA) e o blockchain, e a importância da segurança da informação são temas bastante comuns e amplamente discutidos. Isso porque eles já vêm mudando o modo como os bancos ofertam os serviços financeiros aos seus clientes.
Contudo, essa é só a ponta do iceberg. A computação quântica, tecnologia que está em fase de desenvolvimento, pode colocar em xeque o mundo como você o vê hoje. A expectativa é de que os computadores quânticos sejam capazes de resolver problemas tidos como insolúveis, usando apenas os sistemas clássicos de computação. Eles irão garantir uma velocidade de processamento exponencialmente superior.
Quer entender o conceito de computação quântica e o seu potencial transformador? Avance na leitura deste texto!
1. Conceito
A computação quântica não é apenas uma evolução da clássica. Mais do que isso: trata-se de uma tecnologia que garante alta velocidade de processamento e promete trazer soluções tidas como impossíveis até então.
Mas, por que ela é tão poderosa? Como o nome sugere, o seu desenvolvimento teve como ponto de partida a física quântica.
Ao aplicar o conceito na computação, os cientistas superaram a lógica binária, em que um bit vale 1 ou 0. A computação quântica usa qubits para fazer cálculos. Um qubit pode valer 1, 0 ou qualquer outra combinação intermediária dos dois.
Desse modo, o comportamento dos qubits é regido pelas leis da física quântica, que explica interações de moléculas, átomos e partículas subatômicas, extremamente minúsculas e rápidas.
2. A estrutura de um computador quântico
Ou seja, um computador quântico é uma máquina que usa qubits no lugar de bits. Contudo, os qubits, além de poderosos, são extremamente sensíveis e instáveis. Até mesmo variações pequenas de temperatura ou vibrações quase imperceptíveis podem levá-los a perder a informação que carregam.
Por isso, hoje, para manter os qubits estáveis, as empresas armazenam o hardware e outros componentes do computador quântico em refrigeradores em temperaturas próximas do zero absoluto. O ambiente é mais gelado do que o espaço sideral.
Como nem todos os componentes eletrônicos funcionam quando expostos a esta temperatura, alguns deles ficam fora do refrigerador e enviam os comandos aos qubits por meio de cabos supercondutores.
3. Entenda o seu funcionamento
O componente básico da computação quântica é o qbit, o substituto do clássico bit. Ele tem potencial para promover essa transformação promissora porque conta com características quânticas como sobreposição e entrelaçamento. São elas que fornecem condições para que o qubit faça a transferência da informação com muito mais velocidade do que o bit tradicional. Mas o quão mais rápido o qubit é?
Suponhamos que um chip clássico e um chip quântico precisam percorrer um labirinto para entregar uma informação.
Pela sua estrutura, o chip clássico precisaria testar cada caminho, indo até o final para ver se aquele era o certo. Caso negativo, voltaria à entrada do labirinto para trilhar a próxima rota e seguiria no método de tentativa e erro, até acertar o caminho e entregar a informação.
Por sua vez, diante do mesmo labirinto, o chip quântico percorreria todos os caminhos simultaneamente e acharia a saída em segundos, sem nenhuma dificuldade.
Essa circulação quase instantânea de dados só é possível porque os bits quânticos possuem duas características centrais:
Sobreposição: uma partícula quântica pode estar em vários estados físicos, de modo que as características desses estados se sobrepõem. É por isso que os bits quânticos podem ser 0 e 1 ao mesmo tempo e, assim, transmitir a informação com velocidade.
Entrelaçamento: é o emaranhamento que conecta as partículas de tal modo que uma passa a responder às mudanças das outras. É possível, inclusive, identificar as características de uma partícula apenas observando as outras com as quais ela se entrelaça.
4. Como a computação quântica vai mudar os negócios
O avanço da transformação digital deve ganhar mais velocidade com a computação quântica. Isso porque ela traz uma série de possibilidades a serem exploradas nas mais diversas áreas.
Muitos projetos ainda esbarram em limitações como a propriedade de materiais. Existe uma dificuldade na busca por materiais com características especiais, como alta reflexão, resistência ao calor e superconectividade. Certamente, o computador quântico irá auxiliar neste tipo de pesquisa.
O aperfeiçoamento da IA é outro desafio a ser superado. Embora já sejam capazes de falar e compreender os usuários, computadores têm dificuldade na reprodução de comportamentos humanos como linguagem, discurso e visão.
A IBM lançou, em janeiro de 2019, o primeiro computador quântico de uso comercial. Na ocasião, Robert Sutor, vice-presidente da IBM responsável pela estratégia quântica da empresa, afirmou que “precisamos da computação quântica para simular a natureza. Isso vai ser fundamental para a descoberta, entre outras coisas, de novos medicamentos”. Além disso, Sutor indicou ainda outras atividades que devem ter seu trabalho pautado pelas simulações do computador quântico: gestão de investimentos e mensuração de riscos em diferentes cenários são algumas delas.
5. Desafios e possibilidades da computação quântica no mercado financeiro
Além das vantagens, a nova computação também traz desafios para a gestão dos serviços financeiros. Isso porque algumas formas de criptografia comuns podem se tornar obsoletas de uma vez só.
Neste cenário, é fundamental que novas soluções de segurança da informação sejam criadas. Somente assim será possível evitar que o processamento quântico quebre a encriptação usada pelas instituições financeiras.
De todo modo, além do desafio de repensar a segurança digital, o computador quântico apresenta uma série de novas possibilidades para os bancos. Tal como a inteligência artificial (IA), o blockchain e outras soluções disruptivas, ele deve contribuir para proporcionar oferta de um atendimento individualizado e inteligente, orientado pelas coisas conectadas e combinadas com a análise de dados.
A expectativa é que o poder computacional antecipe tendências de consumo. Desse modo, os serviços financeiros passam a ser apresentados para as pessoas no momento certo. Se o cliente sai de férias, por exemplo, ele não espera contrair um Crédito Direto ao Consumidor (CDC), mas ele, quer, sim, viajar nesse período. Portanto, o CDC precisa ser ofertado como o passaporte de acesso à viagem.
Constrói-se, então, um novo modo de ofertar produtos financeiros: o foco é na experiência do cliente.
Deseja conhecer as tendências de transformação digital no setor financeiro? Continue acompanhando o blog da Cedro!
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