Nove forças moldando o futuro da TI
Por Rogério Marques
17 agosto 2017 - 14:05 | Atualizado em 29 março 2023 - 17:42
A TI está prestes a passar por mudanças sem precedentes. Toda empresa no negócio de tecnologia detecta sinais de grandes mudanças no horizonte: automação, orçamentos de tecnologia descentralizados, adoção rápida de serviços em nuvem e, recentemente, inteligência artificial como uma necessidade de negócio.
Graças a essas tendências emergentes e convergentes, a tecnologia está libertando trabalhadores de tarefas rotineiras, do armazém ao nível executivo. Grandes quantidades de dados estão sendo processados em tempo real, na medida em que decisões de negócios começam a ser terceirizadas para máquinas, deixando mais tempo para planejamento, vendas e adoção de novas tecnologias.
A TI está no centro de tudo isso, destinada a mudar dramaticamente. Para ajudá-lo a navegar nesse oceano de mudanças, desmembramos as forças moldando atualmente o futuro do trabalho da TI, oferecendo insights de alguns líderes da tecnologia com respeito ao impacto de longo prazo das mudanças que vemos hoje.
Automação
A automação está rapidamente se tornando mainstream, passando de projetos experimentais para o mundo de negócios. Enquanto a automação nos negócios pode ter um efeito profundo sobre o emprego no futuro – uma relatório da McKinsey de 2015 sugere que metade das funções de TI hoje executadas por pessoas já poderiam ser automatizadas pelo recurso à tecnologia existente – o impacto sobre a TI será a possibilidade de ela ser mais estratégica.
“Encontrar, extrair e adaptar toda essa informação de modo a ser utilizada para conduzir o processo decisório tem sido uma tarefa complexa e trabalhosa por décadas, diz Timo Elliott, vice-presidente e evangelista global de inovação na SAP. Elliott cita a constatação do relatório da McKinsey de 2015 que os avanços de TI e aprendizado de máquina poderiam reduzir 2/3 do tempo gasto para a realização desse tipo de trabalho mundano, repetitivo.
Livre de ajustes e manutenções, a TI terá mais recursos para se dedicar a impulsionar o negócio.
“Vejo que o maior impacto que a automação terá sobre a TI é que acelerará a mudança de ‘manter a IT’ para inovar para o futuro”, diz Chris Bedi, CIO da ServiceNow. “Além disso, veremos uma melhora no engajamento dos funcionários, haja vista o fato de que eles não estarão mais executando tarefas mundanas.”
Velocidade
Com a automação consolidada, velocidade e agilidade serão elementos-chave. As iniciativas tecnológicas que costumavam levar meia década para serem adotadas são, hoje, implementadas em alguns anos. Tal processo só acelerará – para seu benefício ou risco.
“Se você voltar no tempo e perguntar: qual é a janela de oportunidade que você tem frente aos seus concorrentes?’ Você ouviria algo como cinco anos”, diz Steve Rotter, CMO da OutSystems. “Hoje, são 24 meses. Os CIOS já sentem esse tipo de pressão e vulnerabilidade com relação à velocidade e à agilidade e, para mim, isso é o que gerará uma dinâmica interessante no mercado.”
“O ritmo de mudança tecnológica está acelerando, e as empresas devem seguir firmes se quiserem permanecer competitivas”, diz o CIO da Rackspace, Ryan Neading. “Com essa grande confiança na tecnologia e seu impacto nos resultados, os profissionais de TI estão evoluindo seu senso de negócios e entendimento das jornadas do consumidor. A TI não é mais um setor meramente de suporte, e já faz parte das decisões estratégicas que têm impacto direto nos negócios.”
Segurança
É claro, assim como oportunidades, a tecnologia rapidamente mutável também introduz novos problemas – tanto na identificação de falhas de segurança, como na busca de talento para corrigi-las.
“As ameaças à segurança continuam a evoluir, diz John Mandel, vice-presidente sênior de engenharia na Continuum. “CIO e departamentos de TI que não focaram nessas áreas hoje admitem que isso é um grande risco para seus negócios e que é preciso ser diligente na avaliação de ferramentas de proteção contra novas ameaças. A demanda atualmente superaa oferta, e a TI continua a ser pega de surpresa.”
Na medida em que as ameaças evoluem, a TI passará a ver a segurança como elemento integral, e não função isolada, dentro da organização.
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Gasto
À medida que a tecnologia se torna um item cada vez mais importante em todas as unidades de negócio, as empresas têm de mudar a forma como alocam seus orçamentos – e como a tecnologia é desenvolvida e mantida pela organização como um todo.
Em muitas empresas, os serviços em nuvem, incluindo aplicativos de marketing, estão fazendo com que o gasto em tecnologia seja partilhado entre várias unidades de negócios. Rotter, da OutSystems, cita uma previsão da Gartner que gerou muito debate anos atrás, que afirmou que até 2017, o CMO estaria gastando mais com tecnologia que o CIO. Hoje, vemos que era verdadeira.
“Muito disso se explica pelo fato de que o marketing está se tornando cada vez mais dependente de dados, os quais são fundamentais para o seu trabalho, diz Rotter. “Não obstante, é uma condenação muito clara de que as ferramentas e as tecnologias que costumavam dar suporte às equipes de marketing são rígidas. Finalmente, as organizações perceberam tal fato e estão construindo aplicações flexíveis em cima do sistema legado (legacy systems).”
E mais: os desenvolvedores que criam essas aplicações podem não ser empregados pela TI. Em vez disso, podem ser contratados diretamente pelo departamento de marketing.
Colaboração
A mudança no gasto não tem de significar uma mudança completa na hierarquia empresarial. Em vez disso, espere colaboração mais profunda entre a TI e as outras unidades de negócios.
Carolyn April, diretora-sênior de análise da indústria na CompTIa, diz que, além de o orçamento de tecnologia estar sendo repartido por vários setores, existe evidência de que divisões de negócios estão trabalhando juntas no emprego de novas tecnologias e, de alguma forma, surpreendentemente, a prática de adoção setorial de tecnologia pode estar desaparecendo.
“Quatro de cada dez entrevistados em um relatório recente da CompTIa disse que seu departamento trabalha em conjunto com a TI para determinar quais hardware, software, serviços e outras soluções tecnológicos eles irão utilizar”, ela afirma. “Só 19% disse que a TI domina todas as decisões e, ainda menos – 14% – disse que suas unidades de negócios controlam a decisão final.”
Talvez mais interessante seja a evidência da crescente fluidez nessa área, como April informa que ¼ dos respondentes reporta que os processos de compra de tecnologia “podem se por uma variedade de formas: via TI, via unidade de negócio, ou esforço colaborativo entre ambas. Dito isso, todos os sinais indicam que o papel de unidades de negócios (que não a TI) terá em processos decisórios estratégicos ou táticos consoante a tecnologia só aumentará a marcha dos negócios em direção à nuvem e a todas as coisas digitais.”
O CIO da Box, Paul Chapman afirma que o gasto está sendo mais focado em ações de negócio que em departamentos. “os custos contábeis não discricionários e não diretamente relacionados à TI ainda são administrados pela TI, de modo que tal separação não é sempre [o caso]. Se o serviço requer a interconexão com outras unidades de negócio, em especial, com respeito à arquitetura empresarial, precisando ser testado de forma integrada, a TI é então necessária para dar apoio na entrega. SaaS livra a TI da infraestrutura e da maioria dos custos operacionais, mas não a livra do resto dos serviços que são necessários para implementar e evoluir uma arquitetura de negócios ponta-a-ponta.”
Agilidade
Não há nada particularmente inovador na necessidade de habilidades interpessoais e colaboração eficiente entre departamentos. Mas existe uma forma de aplicar conceitos tecnológicos em todas as unidades de negócio com vistas a uma comunicação superior.
Julia David, vice-presidente sênior e CIO na Aflac, diz que os relatórios internos de satisfação do consumidor da seguradora melhoraram 40% depois da introdução de práticas ágeis entre departamentos.
“Ao integrar o negócio em nossas equipes ágeis, aumentamos a colaboração, posicionando a TI em um papel mais consultivo em oposição a um receptor de ordens”, diz ela. “A colaboração com outros departamentos têm sido crítica para o nosso sucesso. O principal impulsionar disso foi a nossa transição para uma estrutura mais ágil.”
Espere mais departamentos de TI incorporando práticas e metodologias ágeis não só em seu fluxo interno de trabalho, mas em parcerias com todas as linhas de negócios.
Flexibilidade
A vice-presidente da Booz Allen Hamilton, Angela Zutavern, é coautora da obra The Mathematical Corporation: Where Machine Intelligence and Human Ingenuity Achieve the Impossible. No livro, Josh Sullivan e ela argumentam que uma parceria entre a inteligência de máquina e o intelecto humano formarão o modelo de negócios do futuro. Mas, para esse modelo funcionar, flexibilidade é chave.
“As grandes descobertas” diz Zutavern, “originam-se da combinação de conhecimento de negócios, expertise tecnológica e habilidades interpessoais. Os traços mais importantes para se ter sucesso na tecnologia dos negócios do futuro são flexibilidade em superar imprevistos e disposição a abandonar uma ideia que não está funcionando em prol de algo novo.”
E, embora muita discussão ocorra sobre o futuro da automação e da robótica, alguns argumentam que existem qualidades humanas inatas que continuarão em demanda.
“Provavelmente veremos uma demanda crescente por habilidades “à prova de robôs” que continuam a ser unicamente humanas. Muitas habilidades interpessoais tendem a cair nessa categoria de ser mais “à prova de robôs” que algumas competências técnicas, diz Jeremy Auger, CSO da Desire2Learn.
“Máquinas tendem a ser boas na execução de tarefas específicas, descritivas e repetitivas”, Auger complementa, “deixando espaço para as tarefas que requerem imprevisibilidade. Por exemplo, habilidades interpessoais, qualidades colaborativas e profissionais com bom poder de síntese de experiências passadas continuarão a ser demandados. Contudo, indicadores sugerem que ocupações relacionadas ao suporte à tecnologia avançada são mais resilientes e tendem a ter um papel trabalhando ao lado dos robôs.”
Em outras palavras, a qualidade inefável de adaptação será vital para o sucesso futuro da TI.
Simbiose
Manchetes sobre automação e IA podem ser alarmantes. Gartner até mesmo lançou um relatório sobre os termos mais exagerados usados para descrever o futuro do trabalho, que frequentemente incluem “disrupção, roubo, extinção e ameaça”. Mas a maioria dos profissionais de TI que pesquisamos vê a automação como criadora de novas oportunidades – desde que possamos estabelecer uma relação simbiótica com as máquinas.
“Em última instancia, qualquer atividade alimentada por dados e padrões repetitivos poderia transformar-se em uma processo dirigido pela AI, diz Chapman. “A mudança é ter as pessoas focando em trabalho de alto valor agregado, e menos em tarefas mundanas. Outra mudança considerável é a que afetará interações de contato, texto e fala com serviços backend, que está se afastando da dispersa interface apontar-e-carregar que temos hoje.”
Concomitante a essa evolução na forma como interagimos com máquinas, haverá grande entrosamento entre humanos e inteligência de máquina no tocante a processos e decisões de negócios.
“Vemos clientes começando projetos-piloto para processos complexos de decisão, diz Zutavern, “otimizando grandes portfólios de TI, e respondendo a intromissões adaptáveis de cibernética.”
Andrew Filev, CEO da plataforma de gerenciamento de trabalho Wrike, concorda. A empresa de Filev trabalhou com o departamento de marketing e a equipe de TI da AirBnb para criar um processo automatizado que dispara novos projetos, duplica cronogramas e automatiza atualizações de colabores ao Trip Experiences, novo produto da AirBnb.
“O futuro da TI são mais sistemas que são automatizados dessa forma, e também mais integrados em sistemas e equipes”, diz Filev. “A automação pode produzir mais visibilidade e comunicação mais ágil. Junto com a automação, o gerenciamento de trabalho e a IA estão abrindo portas para processos avançados dentro das empresas”.
Ubiquidade
Julie Woods-Moss, CIO da Tata Communications, vê a evolução da automação nas estratégias digitais como preparando o caminho para uma experiência de trabalho mais responsiva em TI.
“Automação pavimentará o caminho para um ambiente de TI mais simples, em tempo real, em que a pessoa – ou máquina – correta é capaz de obter a informação correta, na hora e no lugar certos, acelerando o desenvolvimento e o lançamento de novos serviços”, afirma.
E essa habilidade de entrega rápida de soluções técnicas especificas permeará o negócio.
“Na medida em que sistemas automatizados serão capazes de lidar com a maioria das questões de TI diárias, a equipe de TI será liberada para focar em tecnologias novas e inovadoras, bem como à entrega de valor estratégico para diferentes linhas de negócios”, Woods-Moss diz.
Zutavern vai além e diz que a inteligência de máquina é essencialmente uma nova forma de parceria de negócios – e merece um lugar nas reuniões.
“CIOS e outros líderes precisam ficar mais confortáveis com as máquinas tomando decisões”, diz Zutavern. “Entretanto, devem conceder às unidades de negócios a flexibilidade de criar novas soluções que ainda nem conceberam. Estamos vendo mais plataformas-como-serviço, que permitem a todos se unirem para fomentar o poder de seus dados para alimentar a criatividade, inovação e cultura de experimentação.”
Artigo traduzido a partir da publicação original: 9 forces shaping the future of IT
Autor: Paul Heltzel
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